Clube do Pai Rico

Tesouro Direto: Regularidade e visão de longo prazo

Eu costumo dizer que o mercado de renda fixa brasileiro é uma espécie de “jabuticaba financeira”, uma coisa que só existe aqui mesmo… O Brasil é, possivelmente, a única economia relevante do mundo onde é possível se obter ganhos reais (acima da inflação), na segurança e no conforto dos títulos públicos federais.

Porém, estamos passando por um momento um pouco “peculiar”, em que uma série de tensões políticas e institucionais começam a dar sinais de dissipação e nossas taxas de juros começam a apontar para uma queda suave no médio prazo.

No exato momento em que escrevo este texto, a taxa Selic está em 14,25% e o Relatório Focus do BACEN aponta para uma Selic de 11% no final de 2017. É uma queda significativa em relação ao nível que estamos agora, mas 11% ainda é uma taxa inaceitavelmente alta para os padrões internacionais – ainda mais se considerarmos que as projeções para a inflação também apontam para baixo (leia-se: as taxas reais deverão ter pouca alteração se essas projeções se concretizarem).

Alguns investidores já começam a “coçar o dedo” em busca de outras opções, como ações, imóveis e títulos de renda fixa mais arriscados, como debêntures. E aí sou obrigado a dizer: “Calma lá!”.

A taxa está alta, mas deve continuar alta por um tempo razoável (ainda que mais baixa que os níveis atuais). Aqueles que buscam investimento de longo prazo ainda têm uma oportunidade única pela frente, que é adquirir títulos públicos de vencimentos longos, prefixados ou indexados à inflação, que vão garantir uma boa taxa de juros por um bom tempo.

É importante lembrar que os títulos públicos federais não são resgatáveis antecipadamente (inclusive, no Tesouro Direto, não se usa o termo “resgate” quando um investidor liquida seu investimento, e sim “recompra”), então o Tesouro Nacional não pode simplesmente “extinguir” os títulos. Aqueles que têm, por exemplo, títulos pagando IPCA mais 6%, 7% ou mesmo 8% continuarão recebendo essas generosas taxas até o vencimento.

Por isso, os títulos do Tesouro Direto, especialmente os de vencimentos mais longos, são instrumentos ideais para aqueles que querem construir um patrimônio sólido no longo prazo.

Talvez a gente esteja vendo o “início do fim da era gloriosa do Tesouro Direto”, em que títulos públicos chegam a render mais que títulos bancários de características similares e risco maior. Em termos de juros, o Brasil é um ponto totalmente fora da curva e uma oportunidade que deve ser aproveitada, enquanto existir. Não se preocupe muito com as oportunidades em renda variável, pois na renda variável “sempre tem jogo”, principalmente em operações de prazo mais curto. Mas, na renda fixa, talvez seja o último momento de embarcar em taxas altas sendo pagas por prazos longos.

E nunca é demais lembrar: o Tesouro Direto é um investimento acessível (investimento mínimo de 30 reais), que não privilegia o volume financeiro. Entrando com trinta reais ou um milhão, o retorno percentual será o mesmo.

Ainda há tempo (talvez bastante tempo) para fazer uma programação de aportes regulares, para aproveitar essa “onda” e construir um patrimônio sólido com um grau de segurança excepcionalmente alto.

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André Massaro é criador do projeto Investidor em Renda Fixa, professor de finanças do Instituto Educacional BM&FBOVESPA, autor do blog “Você e o Dinheiro” do Portal EXAME (Editora Abril), apresentador do canal “Seu Dinheiro na TV” do Portal EXAME (Editora Abril), consultor de Economia e Finanças da Rádio Jovem Pan, autor publicado de três livros sobre finanças pessoais e investimentos.