Eric Schmidt já era um executivo bem-sucedido na área de tecnologia quando, há dez anos, aceitou o convite dos fundadores do Google, Sergey Brin e Larry Page, para comandar a empresa. Schmidt tinha, à época, 45 anos e passagens brilhantes por áreas técnicas e executivas de empresas do Vale do Silício como Sun Mycrosystems e Novell e pelos míticos laboratórios de pesquisas da Xerox (o Parc) e da AT&T (o Bell Labs, hoje pertencente à Alcatel-Lucent). Brin e Page estavam na faixa dos 27 anos e não tinham nenhuma vivência corporativa. Os dois se conheceram na Universidade Stanford, na Califórnia, onde desenvolveram aquele que até hoje é, de longe, o melhor sistema de buscas da história da internet.
A chegada de Schmidt permitiu que o Google fizesse a transição definitiva do laboratório para o mercado – um trajeto quase sempre complicado, dada a inabilidade da maioria dos pesquisadores para o mundo dosnegócios. De brincadeira, ele dizia que era responsável pela “supervisão adulta” dos jovens fundadores da empresa, os quais ele considerava – a sério – gênios. Na semana passada, foi anunciado o fim da era Schmidt no Google.
Se ele foi mandado embora ou se pediu para sair, é impossível dizer. Num excelente relato, o jornalista Ken Auletta, da revista New Yorker, conclui que sim, o executivo pediu para sair – mas que os fundadores já tinham, em paralelo, decidido pela sua demissão do posto. Schmidt teria tomado sua resolução há um ano, quando foi voto vencido na decisão do Google de sair do mercado chinês para encerrar a disputa com o governo do país em torno da censura às buscas por conteúdo. Ao mesmo tempo, os fundadores concluíram que havia chegado a hora de Page assumir o comando da empresa (o relato de Auletta, em inglês, pode ser lido aqui). Schmidt permanece como presidente do conselho e ganhou um bônus de US$ 100 milhões em ações pelos serviços prestados (ele já era bilionário). A troca de comando será efetivada no início de abril.
Page preparou-se desde cedo para a tarefa. Aos 12 anos, diz Auletta, ele leu a biografia do inventor iugoslavo-americano Nikolas Tesla (1856-1943), na qual o gênio considerado um dos principais responsáveis por tornar a eletricidade um bem acessível à humanidade diz que não adianta os cientistas criarem as coisas se elas não têm viabilidade comercial. Page é o dono do negócio (junto com Brin) e poderia ter encontrado um outro executivo de primeira linha para tocar o barco, mas resolveu chamar a responsabilidade para si. Ele é jovem (37 anos), estupidamente rico e superdotado intelectualmente. Tem o privilégio de escolher como e onde quer levar a vida, mas optou por administrar a empresa que criou.
Não se sabe ainda quais são os planos de Page para o Google. Ninguém aposta em mudanças radicais, já que a empresa permanece inabalável no posto de principal fornecedor de respostas para os 2 bilhões de pessoas que acessam a internet no mundo – incluindo a parcela dos usuários chineses que dão um jeito de superar as barreiras impostas pelo governo do país à internet. O Google também tem uma invejável posição no palpitante mercado de celulares inteligentes (os smartphones). O sistema opercional Android, que pertence à empresa, equipa cerca de um terço dos aparelhos vendidos no mundo – outro terço pertence ao iPhone e o restante é dividido pelas outras marcas. Mas o Google que Page herda de Schmidt tem lá seus desafios, sendo que o principal deles é mostrar que a falta de uma rede social robusta sob o chapéu da marca não será um problema grave (o Orkut, do Google, só pegou no Brasil e na Índia e, além disso, já está em decadência).
Alguns acreditam que a era Facebook, na qual os usuários utilizam seus próprios amigos para encontrar o que querem e para selecionar o que lhes interessa na torrente de informações disponível na rede, representa a principal ameaça à soberania do Google desde sua criação, há 12 anos. Curiosamente, credita-se boa parte do sucesso do Facebook à insistência de seu fundador, Mark Zuckerberg, em não abrir mão do rígido controle que exerce até hoje como principal executivo da companhia. Do alto de seus 26 anos, ele não só recusou diversas ofertas milionárias pelo controle da empresa (o Google foi um dos que tentou assumir aquela que hoje é a maior rede social da história da internet), como resiste impassível às tentativas dos investidores para que a rede assuma uma postura mais agressiva comercialmente. Desse jeito, nadando contra a corrente, ele levou sua rede à marca de mais de 500 milhões de usuários e valor de mercado de US$ 50 bilhões. Zuckerberg é outro que, jovem e bilionário, poderia levar a vida que quisesse, mas que nem pensa em abandonar o barco que constuiu e dirige – mesmo que o cargo de CEO traga consigo aborrecimentos pelos quais ele não precisaria passar.
Page e Zuckerberg são, evidentemente, apaixonados pelo que fazem. A fachada de jovem nerd que ambos exibem deve também camuflar um apego considerável pelo exercício do poder – algo que Brin, o outro fundador do Google, aparentemente jamais manifestou. O privilégio que ambos têm de, ainda muito jovens, ajudar a redefinir como as pessoas consomem e compartilham em informação deve, no fim das contas, pesar mais do que tudo para que eles continuem dando duro à frente das empresas que criaram.
E você, o que acha que faz Page e Zuckerberg permaneceram à frente do Google e do Facebook?
Escrito por: João Paulo Nucci
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