A gorjeta é de quem mesmo ?
Um ótimo texto, que nos dá ainda mais detalhes sobre os “famigerados” 10% da gorjeta …
Muitos se negam a pagar, muitos reclamam por ter que pagar … mas a maioria acaba se lembrando que o pesado do salário dos garçons vem das gorjetas. Agora … nos lembrar que tem restaurante que embolsa esse dinheiro, é para matar … 🙁
Lei da Gorjeta – Fernando Canzian
DE NOVA YORK – Pasmo, leio que foi preciso um despertar da letargia corrupta de nosso Congresso Nacional para tentar reparar a injustiça que os donos de restaurantes no Brasil cometem há décadas.
É incrível que uma questão ética e distributiva em um país de salários aviltados como o Brasil tenha que se valer de lei para se fazer justiça. Vem aí a Lei da Gorjeta.
Deveríamos sempre perguntar aos garçons, no Brasil, se o restaurante repassa a gorjeta a eles. Se a resposta for negativa, não acrescentar nada à conta. E dar os 10%, direto e em dinheiro, na mão do garçom.
E o Congresso que vá cuidar de coisas estruturais. Se é que ainda sabe fazer isso.
Projeto do deputado Gilmar Machado (PT-MG) aprovado em caráter conclusivo na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (vai direto ao Senado, sem votação em plenário entre deputados) prevê que os donos de restaurantes só poderão ficar com um quinto da gorjeta –que hoje muitos embolsam integralmente.
Pelo projeto, a fatia de um quinto (20%) recolhida pelo dono do restaurante sobre a gratificação total dada ao garçom seria usada para despesas com encargos sociais e previdenciários. Ok.
Mas a proposta já causa rebelião digna da turma descansada do famigerado “Cansei” de 2007.
Representantes dos “sofisticados” Antiquarius, Fasano, D.O.M. (“Et tu, homo modernus?”), Vecchio Torino, Jun Sakamoto, A Bela Sintra, La Tambouille e Figueira Rubaiyat, segundo relata a Folha, planejam contratar lobistas para tentar modificar o projeto no Congresso.
Pensam em duas alternativas: ficar com quase 50% da gorjeta do garçom ou ampliar a gratificação para 15%.
Pergunta aos ilustres “restauranteurs” brasileiros? Quanto pagam de gorjeta quando vêm jantar em Nova York? Em restaurantes muitas vezes superiores e mais baratos do que os seus no Brasil, onde a concorrência é pífia e os clientes, muitas vezes jecas endinheirados, deslumbrados diante de contas estratosféricas?
Existem vários estudos nos EUA sobre a importância social e financeira das gorjetas. Mães solteiras que trabalham como garçonetes em centenas de cidades norte-americanas só “fecham o mês” por conta delas. Qualquer estudante duro que já trabalhou como garçom ou bar man sabe a diferença que elas fazem.
Nos EUA, elas vão de 10% a 20%. Coitado do cliente que tomar uma cerveja de US$ 7 e não deixar US$ 1 para a pessoa do outro lado do balcão. Nova rodada, só no bar ao lado.
Os EUA são famosos pelo “tipping” (o ato de dar gratificações). E pelo mau humor de quem não o recebe. Mas é assim. “The deal”: 10% ou 20% de quem está tendo prazer… para quem está proporcionando o prazer.
Pode-se questionar essa lógica.
Mas, no Brasil, ela é perversa: os 10% são cobrados. Ponto. E os donos do negócio querem agora, no mínimo, institucionalizar em lei a apropriação de quase a metade desse dinheiro.
Senhores, 10%?! Que país…
Essa história de sempre ganhar mais no “jeitão” está enchendo cada vez mais … quero ver quando chegar no limite … o negócio pode ficar feio …