Clube do Pai Rico

Colunistas ||| A crise expandindo os horizontes do investidor brasileiro

Entre o segundo semestre de 2002 e o primeiro semestre de 2008 observamos um grande ciclo virtuoso na economia mundial. Nesse período, muitos brasileiros foram atraídos para a bolsa de valores devido aos enormes ganhos que as ações proporcionaram. Muitos ganharam dinheiro com relativa facilidade, pois o forte mercado altista possibilitava ganhos até para leigos sem um bom sistema de investimentos. Entretanto, a recente crise do subprime provocou enorme prejuízo principalmente aos investidores iniciantes que entraram na fase final desse ciclo de expansão. Investidores assustados saíram do mercado tentando salvar o que restou de seu patrimônio; outros estão rezando para o mercado voltar a subir. E outros que estavam pensando em começar a investir desistiram da ideia.

O que a maioria dos brasileiros desconhecem, é que o mercado de ações possibilita ganhos até quando está em queda. Seria quase inevitável ficar sem engolir algum prejuízo com essa reviravolta no mercado, mas tenha certeza de que há investidores ganhando rios de dinheiro com a queda das ações.

Além de comprar ações para tentar ganhar com sua possível valorização há a possibilidade de fazer operações de venda para tentar lucrar com a queda dos seus preços. Isso pode ser realizado de duas formas: efetuando vendas a descoberto ou vendas alugadas.

A venda a descoberto é um tipo de operação permitida apenas para realização de day-trades (operações iniciadas e terminadas no mesmo dia). Nesse tipo de operação o investidor vende ações que não possui em sua custódia esperando que seus preços caiam abaixo do preço de venda. Ao recomprar as ações mais barato do que vendeu, o investidor estaria lucrando com a diferença entre o valor que recebeu pela venda a descoberto e o valor que desembolsou para recomprar as ações e assim encerrar sua operação.

As operações de venda a descoberto podem ser realizadas por meio de um sistema de operações que utiliza a Análise Técnica como forma de análise das ações. A seguir, vamos estudar um exemplo.

Temos na figura ilustrativa um gráfico da PETR4 na periodicidade de 5 minutos. No ponto A encontramos o papel dentro de uma tendência de baixa fazendo um repique até a resistência dada pela média móvel de 21 períodos e o suporte rompido, anteriormente, no movimento de expansão que precedeu essa correção. Repare que esse movimento de alta se deu com candles de corpos pequenos até culminar num doji em cima da resistência. Por essa leitura dos candles vemos que o movimento de alta não possui força. O doji formado na resistência nos dá um sinal de que é possível ocorrer uma retomada do movimento de baixa a partir desse ponto.

Se fôssemos operar esse papel poderíamos vendê-lo a descoberto na perda da mínima do doji. E também poderíamos traçar a extensão alternada de Fibonacci e combiná-la com os suportes para projetarmos o alvo da operação. Veja em B que temos um suporte dado pelo gap formado na abertura do pregão, nesse dia, nas proximidades da extensão alternada de 100%. Esse seria o nosso ponto de recompra do ativo para encerrar a operação. Observe que a PETR4 atingiu justamente esse nível de preços antes de fazer nova correção do movimento de baixa. Se tivéssemos seguido o plano de ação descrito, teríamos obtido um lucro bruto próximo de 0,7% – o que é bem razoável para um day-trade.

 

ex-day-trade

(clique na imagem para ampliar)

 

Como as vendas a descoberto são permitidas apenas para day-trades, aqueles que desejam montar operações de venda de maior duração precisam recorrer ao aluguel de ações.

Uma operação de venda alugada consiste em alugar ações de outros investidores mediante o pagamento de uma taxa de juros anual ao doador das ações e uma taxa de intermediação à corretora. Para efetuar a operação, o investidor entra em contato com a corretora por um de seus canais de atendimento e solicita as ações. Esclarecido detalhes como quantidade de ações, taxa de juros (valor a ser pago pelo aluguel), tipo de contrato (reversível ou não-reversível) e prazo de duração do mesmo a mesa de operações da corretora se encarrega de efetuar o aluguel e colocar as ações na custódia do tomador.

Uma vez alugada as ações, o tomador pode vendê-las e recomprá-las quantas vezes quiser até três dias antes do vencimento do contrato de aluguel – devido ao prazo de liquidação de D+3. O contrato pode durar alguns meses, mas se for reversível o tomador poderá devolver as ações no momento em que achar apropriado, pagando somente a taxa de juros proporcional ao tempo em que as ações estiveram sob sua custódia. Essa taxa varia conforme a liquidez do ativo. Um ativo mais líquido como a VALE5 pode ter uma taxa de menos de 0,4% ao ano enquanto um outro menos líquido como a JBSS3 pode ter uma taxa de 8% ao ano.

No próximo exemplo, encontramos a PETR4 no período diário. Vamos ver como a Análise Técnica nos ajudaria a fazer uma operação de venda alugada neste caso.

A partir do meio do gráfico o ativo entra em tendência de baixa. No ponto A encontramos o papel corrigindo logo após romper o suporte. Essa correção sente o suporte rompido atuando como resistência e os preços formam um candle de reversão nesse ponto. Esse seria um sinal de que poderíamos iniciar uma operação de venda. Aqui também poderíamos traçar a extensão alternada de Fibonacci e descobriríamos que há um suporte em torno de R$ 32,64 logo após a extensão de 100%, conforme podemos observar em B. Esse seria nosso alvo para recomprar as ações e encerrar a operação. Então, no dia seguinte, poderíamos efetuar uma venda a descoberto na perda da mínima desse candle de reversão e em seguida alugar ações na mesma quantidade da venda realizada para nos mantermos posicionados até o alvo da operação. Conforme é possível observar, nesse caso também seríamos bem sucedidos ao recomprar as ações exatamente no alvo. O lucro bruto dessa operação seria algo próximo de 11% depois de quatro dias posicionados.

 

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(clique na imagem para ampliar)

 

A partir desses exemplos podemos afirmar que não importa se o mercado se encontra em tendência de alta ou de baixa, mas sim sabermos aproveitar seus movimentos.

Estamos passando pela pior crise econômica desde 1929. A maioria dos investidores na ativa nunca viram coisa parecida. Como podemos constatar, a vida de muita gente foi prejudicada. Empregos foram perdidos, famílias estão em dificuldades financeiras… Contudo, é verdade quando dizem que toda crise trás oportunidades. Para os brasileiros, em especial, a crise está trazendo uma oportunidade para repensar seus conceitos e expandir seus horizontes como investidores da bolsa se valores; é uma chance de aprender a operar nos mercados em baixa assim como os norte-americanos já fazem há muito tempo.

Marcos Abe é investidor e autor do livro “Manual de Análise Técnica – Essência e Estratégias Avançadas”.