Clube do Pai Rico

O “golpe” dos títulos de capitalização …

Eu sempre fui contra o “investimento” em título de capitalização …
Toda vez que algum parente ( por mais que eu avise sobre a burrada que vai fazer … ) diz que “investiu” em um, fico possesso …

Sempre falo: Quer “investir” nisso por causa do sorteio ? Então pega a grana e coloca na poupança, e uma vez por semana faz uma fézinha na Mega Sena ou em qualquer jogo de loteria.

É sacanagem e ponto final.
Os gerentes ficam super felizes quando conseguem empurrar isto para um cliente, afinal de contas eles tem a cota de vendas do mês …

Quer ganhar dinheiro ? Não aceite as “dicas” dos gerentes, muito menos aceite os “investimentos” que eles tentam empurrar …

Quer perder quanto?

Compre um título de capitalização e descubra por que, na verdade, ele deveria se chamar título de descapitalização
Por ALINE LIMA

Mauro Souza

Atire a primeira moeda quem nunca foi abordado pelo gerente do banco para adquirir aquele título de capitalização “incrível”, no qual o aplicador, além de guardar dinheiro, concorre a uma bolada. O discurso normalmente é o mesmo: seu dinheiro será capitalizado e remunerado pela taxa da caderneta de poupança. Trata-se, no entanto, de uma das piores formas de empregar suas economias — e é fácil entender o porquê. A tungada ocorre logo de cara, quando nas primeiras parcelas mais da metade do dinheiro desembolsado vai direto para o cofre da seguradora — a chamada cota de carregamento. Essa reserva que fica para a instituição financeira diminui, ao longo do tempo, mas nunca zera. Eis aí a primeira lição sobre títulos de capitalização: apenas uma parte do seu dinheiro será corrigida pela poupança. Isso explica a decepção de muitos clientes que, ao fim do plano, resgatam praticamente a mesma quantia depositada durante anos. No fim das contas, seria quase o mesmo que guardar dinheiro debaixo do colchão, com a vantagem de que, fazendo isso, você poderia sacar a grana a qualquer hora, sem ser penalizado, ao passo que no título de capitalização, seu dinheiro fica “preso” devido ao prazo de carência. Isso mesmo: você é impedido de resgatar durante um período e só recebe todo o montante de volta, sem descontos, se esperar até o fim do contrato.

Mas essa “poupança forçada” é apenas um dos argumentos para a venda de títulos de capitalização. O principal apelo são os sorteios.

Veja o que diz Natanael de Castro, diretor comercial da Brasilcap, empresa líder de mercado: “Não vamos comparar título de capitalização com outros investimentos porque é injustiça. São coisas diferentes. Um tem como principal atrativo o aspecto lúdico e o outro, o financeiro”. Ele está certo. Título de capitalização, na prática, não é investimento. É loteria. No entanto, como observa o economista Rafael Paschoarelli, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, “se é jogo, deveria ser vendido em casa lotérica, não em agência bancária”. Ademais, apostando na loteria você despenderia um valor bem menor para comprar o bilhete e concorrer aos sorteios do que num título de capitalização, em que a rentabilidade do seu capital fica comprometida por anos a fio.

Com o objetivo de suprir essa lacuna de rentabilidade, a Brasilcap lançou, em novembro de 2008, o primeiro título de capitalização atrelado à bolsa — o Ourocap Flex. No fim de maio, deve estar nas prateleiras do Banco do Brasil uma nova versão, direcionada aos clientes de alta renda. No Ourocap Flex, parte da cota de carregamento é destinada a um fundo de ações. Os títulos custam 100, 150 ou 200 reais por mês. São 48 parcelas para pagamento e 93 meses de vigência, com carência nos 12 primeiros meses. “É a melhor maneira de guardar, ganhar e ganhar”, diz Natanael, referindo-se, com a duplicidade, às possibilidades de ganho com os sorteios e com a bolsa. Será? Vejamos como funciona o produto a partir da seguinte tabela:

ParcelasCota de sorteioCota de carregamentoCota de capitalizaçãoBônus
1a a 3a1,86%63,03%30,00%5,11%
4a a 48a1,86%19,96%73,68%4,51%

Nas três primeiras parcelas, apenas 30% serão rentabilizados pela taxa da poupança (0,5% ao mês mais TR); 5,11% irão para o fundo de ações, 1,86% é o percentual pago para participar do sorteio e 63,03% ficarão para a seguradora cobrir despesas com a operação e, principalmente, ter muito lucro. Nos demais pagamentos, 73,68% serão rentabilizados pela poupança, 4,51% irão para o fundo de ações, 1,86% vai para o sorteio e 19,96% ficarão para o banco. O saldo da cota de capitalização e do bônus permanece por mais três anos e nove meses (correspondentes aos 93 meses de vigência) em seus respectivos segmentos — poupança e bolsa.

Rafael Paschoarelli fez as contas. Considerando que o cliente tenha optado pelo pagamento mensal de 100 reais ao Ourocap Flex e que a bolsa tenha rendido, em oito anos, 16% ao ano, em média, o saldo bruto do título de capitalização seria de 5 062,78 reais. Se o dinheiro estivesse na caderneta de poupança, o montante seria de 7 108,55 reais. Confira, abaixo, como ficaria, ano a ano, o saldo do título de capitalização (cota de capitalização + bônus), comparado com o rendimento da caderneta de poupança. Repare que, ao fim de quatro anos de pagamento (48 meses), se o cliente quisesse resgatar o dinheiro aplicado, a quantia seria menor do que os 4 800 reais desembolsados:

MêsCota de capitalizaçãoBônusCaderneta de poupança
1305,11100
12769,5158,981 238,37
241 719,36123,052 564,20
362 722,54194,803 983,68
483 782,04275,175 503,42
603 994,4308,195 892,13
724 218,68345,176 308,29
844 455,55386,596 753,84
934 641,90420,887 108,55

Conclusão: o saldo do título de capitalização, ou seja, a soma da cota de capitalização e do bônus, é inferior à poupança.

Cota de capitalizaçãoBônusCaderneta de poupança
4 641,90420,887 108,55

Cota de capitalização + Bônus = 5 062,78
Caderneta de poupança = 7 108,55

As regras do sorteio são bem mais complexas. Rafael tentou decifrar o enigma e descobriu que, ainda assim, o cliente permanece em desvantagem. As chances são mínimas — uma em cada 125 000 no sorteio semanal. Moral da história: “Título de capitalização, como investimento ou jogo, é um péssimo negócio”, diz Mauro Calil, professor do Centro de Estudos e Formação de Patrimônio Calil &Calil.

Fonte